Relação complexa entre EUA e China acirra tensões com guerra comercial e tarifas elevadas
Crescentes tarifas e rivalidades ideológicas marcam um novo capítulo nas relações entre as duas potências globais.

A relação entre as duas maiores economias do mundo, EUA e China, é marcada por uma complexidade que envolve tanto rivalidades econômicas quanto tensões geopolíticas e divergências ideológicas. Recentemente, a escalada da guerra comercial entre os dois países exemplificou essa dinâmica, com o presidente americano, Donald Trump, anunciando em abril tarifas de 34% sobre produtos chineses, o que provocou uma retaliação equitativa de Pequim.
Esses desdobramentos resultaram em tarifas que somam 145% por parte dos EUA em relação à China, enquanto Pequim impôs tarifas de 125% sobre produtos americanos. Essas ações não apenas geraram instabilidade nas bolsas de valores, mas também despertaram preocupações sobre uma iminente recessão e impactos adversos na economia global.
Logo após esses anúncios, Trump optou por uma pausa de 90 dias na implementação de tarifas adicionais a outros países, mas a China continuou excluída dessa trégua. O governo chinês reagiu às medidas de Washington com veementes acusações de "bullying econômico", ressaltando que retaliaria firmemente caso os interesses chineses fossem severamente afetados.
A rivalidade entre EUA e China remonta a 1949, após a fundação da República Popular da China por Mao Tsé-Tung, que culminou na vitória comunista sobre os nacionalistas de Chiang Kai-shek. Desde então, os EUA não reconheceram o novo governo em Pequim, mantendo apoio ao governo nacionalista em Taiwan.
Conforme explicou a cientista política Mary Gallagher, os EUA, ao se recusar a reconhecer a nova liderança chinesa, criaram uma dinamicidade que se intensificou após a Guerra da Coreia, onde cada nação tomou partido contrário. Durante os anos seguintes, as relações diplomáticas se mantiveram inexistentes até 1979, com um longo período de interações limitadas entre os dois países.
A diplomacia do pingue-pongue, um marco nos anos 70, representou a primeira tentativa significativa de normalizar as relações, levando à histórica visita de Richard Nixon à China em 1972. Esse encontro abriu caminho para a formalização das relações diplomáticas em 1979, mas rivalidades e tensões continuaram a surgir ao longo dos anos.
Desde a crise financeira de 2008, a interdependência econômica entre os dois países tornou-se evidente, com a China emergindo como o maior credor estrangeiro dos EUA. A partir de então, a dinâmica passou a refletir não apenas uma cooperação econômica, mas também uma crescente competição estratégica.
A ascensão de Xi Jinping em 2012 trouxe uma nova fase de transformações, incluindo uma maior assertividade militar e comercial da China, reconhecida pelos EUA como um desafio às suas próprias pretensões globais. A retórica se intensificou durante a presidência de Trump, que lançou uma guerra comercial e elevou as tensões em torno de questões como direitos humanos e a autonomia de Hong Kong.
Ademais, a pandemia de Covid-19 refletiu uma visível deterioração das relações, com ambos os lados trocando acusações sobre a origem do vírus. A postura mais dura dos EUA contra práticas comerciais chinesas, somada à crescente rivalidade em diversas frentes, consolidou um cenário onde a competição econômica passou a ser vista como uma questão de segurança nacional.
Atualmente, com a administração de Joe Biden, as tensões permanecem altas, evidenciadas por tarifas comerciais e sanções. O líder chinês, Xi, alertou sobre os riscos de se brincar com o apoio americano a Taiwan, um ponto sensível nas relações bilaterais. Apesar de algumas áreas de cooperação, a trajetória atual entre EUA e China se caracteriza por uma rivalidade crescente, representando novos desafios para a ordem econômica e política global.
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