O renomado matemático Jacob Palis faleceu na quarta-feira, dia 7, aos 85 anos, no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), onde Palis exerceu funções de destaque como ex-diretor e ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Até o momento, a causa do falecimento não foi divulgada.

Palis se destacou no meio acadêmico por suas significativas contribuições à ciência, sendo membro de dez Academias Nacionais de Ciências e recebendo o título de doutor Honoris Causa em nove universidades, tanto no Brasil quanto no exterior. Seu trabalho, realizado principalmente na década de 1970, foi crucial para o desenvolvimento da teoria das bifurcações e para o fortalecimento de uma cultura científica cosmopolita no Brasil.

Marcelo Viana, atual diretor-geral do IMPA e um de seus alunos, ressaltou a grandeza do legado de Palis: “Jacob é, simplesmente, um gigante da nossa ciência. Sua visão inovadora e liderança transformaram a matemática e a ciência no Brasil e na América Latina, inspirando gerações de jovens cientistas”. Palis deixa três filhos, Rebeca, Carlos Eduardo e Laura, além de sua esposa Suely Lima.

Nascido em Uberaba, Minas Gerais, Jacob chegou ao Rio de Janeiro aos 16 anos com a intenção de cursar engenharia, acreditando que isso lhe proporcionaria uma boa formação matemática. Ele se destacou na Universidade do Brasil (atual UFRJ), formando-se em 1962 como o Melhor Estudante de Graduação. Durante sua formação, já frequentava os seminários no IMPA, que havia sido fundado recentemente.

Ele também teve uma estreita relação com Stephen Smale, um dos matemáticos mais influentes do mundo, que recebeu a medalha Fields em 1966. Em 1964, Palis foi para Berkeley, na Califórnia, com uma bolsa da Comissão Fullbright. A parceria entre os dois resultou em uma amizade duradoura, que influenciou toda a sua trajetória profissional.

Após concluir seu doutorado, Palis permaneceu mais um ano nos Estados Unidos como pesquisador na Brown University e professor-assistente na Universidade da Califórnia, retornando ao Brasil em 1968.

Na década de 1970, Palis foi pioneiro na teoria das bifurcações e na promoção da internacionalização da ciência no Brasil. Ele organizou o Simpósio Internacional de Sistemas Dinâmicos em 1971, atraindo pesquisadores de renome e possibilitando que talentos emergentes desenvolvessem pesquisas avançadas no país. Essa contribuição foi fundamental para consolidar o Brasil no Grupo 5 da União Matemática Internacional, que inclui os 12 países mais avançados em matemática.

No período de 1993 a 2003, como diretor-geral do IMPA, Palis liderou uma transformação significativa na instituição, garantindo sua autonomia e fomentando o crescimento e a internacionalização do instituto. Ele também ocupou a presidência da IMU em 1998 e da ABC entre 2007 e 2016, lutando por investimentos de 2% do PIB em ciência, meta que ainda não foi alcançada, com atuais 1,2%.

Além disso, Palis foi fundamental para fortalecer a cooperação internacional na matemática, fundando a União Matemática da América Latina e Caribe (UMALCA) em 1995. Mesmo em cargos administrativos, continuou atuando como orientador e pesquisador, formando mais de 180 acadêmicos, incluindo o medalhista Fields Artur Avila, o único premiado completamente formado na América Latina. Sua pesquisa sobre sistemas dinâmicos caóticos, especialmente uma visão unificadora proposta nos anos 1990, ainda orienta investigações e inspira novas gerações.

Seu trabalho foi amplamente reconhecido por meio de diversos prêmios, como a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (1994), o Prêmio Interamericano para Ciência (1995), a distinção de Oficial da Legião de Honra (2018), o Prêmio Trieste de Ciência (2006) e o Prêmio Balzan em Matemática (2010). Jacob Palis era membro de diversas Academias Nacionais de Ciências, incluindo instituições dos EUA, França, Rússia e Europa.